DIDI CUNHA

Publicado  segunda-feira, 11 de abril de 2011

DIDI CUNHA

O cheiro das rosas purificava o ar insólito de adeus.Os olhos perdidos,dominados por lágrimas teimosas,oscilavam entre a respiração ofegante e o silêncio do não-compreendido. Eu já conhecia essa dor. A luta. O mesmo choro. A típica sensação de que o cheiro das rosas,não estava no agrado do melhor jardim.
Uma família está de luto. O amor encorpa a faixa de “saudades eternas”. Didi Cunha fechou os olhos verdes para descansar eternamente.
Enquanto nós,egoístas de nossos sentimentos,gritamos desesperadamente por mais um dia com quem amamos,por mais um segundo,não percebemos que todo o tempo em que vivemos com nosso ente-amor,serviu para entendermos com respeito,o que significa amar e ter amor. Assimilar uma ausência é perder tempo,pois quando nós abraçamos e beijamos a nossa família,à procura de um ombro que conforte a dor ou na necessidade de expulsar uma triste solidão que se chega,nós ainda sentimos a presença de quem se foi. E ainda não é o momento de assimilarmos um adeus.
Eu conheci Didi Cunha,através do amor. Do amor que tenho por sua neta,Leyanne Cunha,com quem divido minha vida há 05 anos. E bem já soube,que não precisava de muito, para entender o quão Didi Cunha,imponha sua presença,agora não ainda assimilada,com ausência. A instabilidade da realidade,acomete quando estamos incapazes de fazer alguma coisa,quando muito já fizemos.Na competência de apenas lamentar e chorar,criamos apego por alguém que está ali,na nossa frente,mas com o espírito repousando acima de nós. Quando escutei Ribamar Cunha suplicando aos céus “ Acabou o romance de 53 anos”,olhei para o seu semblante caído e afirmei a mim mesmo,na sabedoria inexperiente dos meus 26 anos,que um romance de meio século,torna-se eterno não por ter meio século,mas sim,por sabermos que o mundo pode levar de nós tudo: casa,dinheiro,bens materiais,roupas,carros e seja lá o que for concreto;mas não há de se levar o amor,abençoado por Deus. Porque quando você escuta até que a morte os separe,a ignorância de acreditamos nisso é total. A morte separa o corpo e nunca,o amor,a mente,o coração. Então,o romance de meio século,será lido e contado pelas gerações futuras,por séculos e séculos,sendo chamado de eterno por isso e não por idade duradoura. Romance tem começo,meio e nunca um fim.
Quando vi,filhos e netos chorando,observei que Didi Cunha deixara não apenas sua primeira geração órfã. Era a mamãe de todos,do filho mais velho ao neto que ainda está por vir. E quando fisicamente uma mãe pede licença para viver o outro lado da vida,o tempo é o encarregado de nos carregar há um lugar chamado “saudade diária”. Não confunda com dor. Será muito amor,lembrado em rápidos segundos.
Em 2009,perdi meu pai pelas mesmas complicações que levaram Didi Cunha. Foram dois anos de luta diária,contra o inevitável,porém prolongado fim. Em alguns momentos,acabamos fugindo de quem nós amamos,com medo da perda,mas sempre acabamos lado a lado,custe o que custar,mesmo após o indagado fim que nos aguarda. No meio da luta,disse eu te amo ao meu pai,nos últimos 20 dias da sua vida,e sei que ele escutou,pois já sabia.Por isso,digo a Leo Cunha,filho de Didi Cunha,que fez um discurso emocionante na missa de corpo presente,que mesmo com a partida,nunca é tarde para dizer eu te amo,porque o amor não pede palavras nem gestos,quando está no sangue de uma família.Mudamos de endereço,mas não de casa.
Mesmo que dissipem o cheiro das rosas com  espinhos ardilosos,a condição de ser humano sempre nos levará ao ponto de partida: o choro. E que seja mesmo choro,quando estivermos alegres ou tristes. Há de se encontrar um caminho que nos faça sentir paz e saudade,na distância presente,que na plenitude, significa somente, presença de amor constante.
E no pesar dos dias que virão,seremos capazes de entender que uma dor sempre será passageira,na vergonha de encarar a força do amor eterno. Tentando enxugar o pranto,só precisamos entender que Didi Cunha é amor e será eternamente,presença constante.
Seu o teu descanso, Maria Odenice Cunha,é o teu alívio, o seu sublime amor,é o caminho que devemos seguir.Que Deus nos faça sentir este amor todos os dias. Amém.  

Phelippe Duarte

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